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Ser honesto com você mesmo pode mudar suas relações

Identificar suas feridas internas é o primeiro passo para transformar seu relacionamento

Atualizado em

Que mentiras você conta para si mesmo? Já parou para pensar que a dificuldade de olhar com honestidade para suas feridas internas pode estar impactando sua vida amorosa? Se você vive conflitos de relacionamento, com trocas de acusações, vale a pena investigar se não está descarregando frustrações no outro ao invés de encarar insatisfações que estão dentro de você.

Feridas do passado podem incomodar sem você perceber

Carregamos em nossos corpos mental, físico e emocional muitas marcas e feridas emocionais mal cicatrizadas, além de contas abertas com o passado. Em nosso inconsciente reinam várias memórias, registros e emoções mal elaboradas que evitamos entrar em contato por nos trazerem dor e angústia.

Em nosso inconsciente reinam várias memórias, registros e emoções mal elaboradas que evitamos entrar em contato por nos trazerem dor e angústia.

No entanto, nosso inconsciente está ativo e guiando nossas ações e comportamentos muito mais do que imaginamos.

Reagimos a muitas situações por força do inconsciente, codificando e significando tudo com base em nossas experiências passadas. Todas as circunstâncias em si são neutras, nós é que colocamos o colorido diante do que temos registrado dentro de nós. Assim, estamos a todo momento nos defendendo das dores antigas e também atraindo situações repetidas que nos fazem revisitar as feridas ainda abertas. Tudo aquilo que nos gera incômodo e conflito tem algo a nos ensinar e nos mostrar sobre nós mesmos. Já parou pra refletir sobre isso?

É preciso encarar as emoções negativas de frente

Nos distraímos muito acusando o outro pela nossa infelicidade e perdemos a chance de aprender e amadurecer nas adversidades.

Contamos mentiras para nós mesmos a respeito do que estamos ou não sentindo, sobre nosso papel em cada conflito, sobre como certas ocasiões nos afetam ou não.

Lá atrás, quando a ferida original surgiu, era muito difícil de lidar e, por isso, foi mal elaborada e ficou em aberto. Contudo, hoje em dia, ainda fugimos de limpar a ferida com o medo da dor e nos enganamos, fingindo que nada acontece dentro de nós e o problema está todo do lado de fora.

Ser honesto consigo mesmo é poder admitir para si o que se passa internamente e ter a consciência do que sente, projeta e pensa, por mais difícil que seja admitir isso . O primeiro passo para qualquer mudança é tomar consciência de onde você está. Você só pode se encontrar quando sabe que está perdido, assim como você só pode limpar algo quando enxerga a sujeira. Enxergar honestamente sua própria sujeira e admitir que ela existe ali te permite que, então, você possa pegar um pano e faxinar.

Vulnerabilidade pode ser uma qualidade

Entrar em contato com determinados sentimentos ou admitir que temos falhas, dificuldades e fragilidades muitas vezes é amedrontador. Se ver vulnerável é algo temido por muitos e evitado a qualquer custo.

Contudo, se permitir ser vulnerável é perceber que todos nós estamos em processo de maturação, crescimento e construção. Somos peças inacabadas em constante aprimoramento e só nos tornamos seres rígidos e inflexíveis quando não admitimos e integramos nossas imperfeições e dores.

Tais defesas de contato consigo mesmo interferem nas relações e dificultam a comunicação e a troca sincera. Quando podemos nos compreender e acolher, nos abrimos para fazer o mesmo com o outro. Se não, quando surgem conflitos, nos relacionamos na defensiva e o diálogo se torna bem difícil. Ficamos presos no mesmo ponto de acusação, como vítimas, sem conseguir olhar com distanciamento para compreender o outro e também olhar para si e perceber como se colocou nesse lugar. Ao olharmos para a situação com honestidade, também podemos nos comunicar de forma mais honesta e empática, admitindo nossas dificuldades, compreendendo o ponto que nos apertou e acionando nossa autorresponsabilidade sobre aquela situação.

Experimente ser honesto consigo mesmo

Que tal um exercício? Liste o que recentemente te machucou e te magoou. Aquilo pelo qual você acusa o outro de ser culpado. Experimente, nesse momento, olhar para o que te magoou e buscar ver apenas o que você tem a ver com isso. Mesmo que de fato tenha havido um equívoco e ferimentos por parte de outra pessoa, foque agora em você. Se investigue.

 Isso seria uma repetição de padrão?
  • É algo que você já viveu antes? Já sentiu antes?
  • Te aciona sentimentos conhecidos?
  • O que em você te fez se sentir dessa forma?
  • O que em você pode ter atraído ou criado essa situação?
  • Essa situação espelha ou reproduz algo?
  • Nada vem pra nós sem motivo ou propósito. O que isso está querendo te mostrar sobre si mesmo?

E vale também, quando pertinente, o questionamento sobre o seu lugar ao acusar o outro: Quem em você quer machucar o outro, o deixando em culpa? Nesse jogo de acusações, quem em você precisa se sentir superior? Para defender que fragilidade que você não quer entrar em contato?

Enquanto um fica projetando e acusando o outro pelas suas dores, relações de defesas e atritos são criadas. Relações frágeis, instáveis e superficiais, já que se aprofundar em um relacionamento também envolve se aprofundar em si mesmo. Para isso, é preciso coragem para olhar pra dentro, assumir o que sente e identificar de onde, dentro de você, isso está sendo acionado. Às vezes o outro errou mesmo, você foi mesmo ferido , mas olhar com honestidade para o que isso gera em você e o que essa situação pode lhe mostrar a seu respeito é uma porta aberta para a cura dessa dor.

O que nos incomoda pode ser um reflexo de nós mesmos

Às vezes dói olhar para dentro e ver onde nos colocamos. Às vezes, inclusive, corremos o risco de perceber que aquilo que nos magoou no outro é, também, um comportamento nosso. Ou quem sabe a reedição de uma dinâmica de alguma relação familiar ou o reflexo de nossas ações. Investigue.

Ligue os pontos. Veja o que ainda está precisando ser curado em si mesmo. Busque na sua relação com seus pais, na sua infância, em seus padrões de relacionamentos e comportamentos. Vá se investigando. Em algum momento você encontrará o ponto a ser curado. O outro é apenas um espelho de nós mesmos.

A psicoterapia é uma ferramenta que ajuda nesse despertar da consciência de si e no encontro do caminho da resolução. Podendo olhar com honestidade para tudo que carregamos conosco e nos responsabilizar mais por nossas vidas, temos a capacidade de transformar o que é necessário. Se a responsabilidade estiver sempre fora de nós, continuaremos vivendo na acusação, insatisfeitos e frustrados. O processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal envolve um mergulho profundo e honesto em si mesmo rumo ao desabrochar das mudanças que buscamos.

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal e Consteladora Familiar Sistêmica. Realiza atendimentos individuais e de casal no RJ e online e ministra grupos terapêuticos e palestras.

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